quarta-feira, 7 de março de 2012

E a Morte Não Terá Domínio


Há uma história no Zohar que conta sobre o falecimento de um sábio chamado Rav Yosi.
Desde o momento da morte dele, o filhinho de Rav Yosi estava inconsolável, chorando sobre o leito de seu pai, pressionando firmemente sua boca na boca de seu pai, impedindo qualquer pessoa de se aproximar do corpo do grande sábio.
"Onde está a justiça?", chorava o menino. "Eu devia ter sido levado em vez do meu pai."
Recusando consolo, ele agarrava seu pai com firmeza, como se acreditasse que seus braços curtos e magros fossem suficientemente fortes para resistir à partida do pai para o outro mundo.
Ele implorava aos céus para que levassem a ele em vez do pai, e seus lamentos se provaram tão comovedores que por fim um visitante chamado Rav Elazar começou a chorar junto com a criança.
Ele recitou um versículo da Bíblia.
De repente, uma coluna de fogo se ergueu e separou os enlutados do falecido, embora a criança permanecesse grudada aos lábios do pai.
Uma voz falou ao sábio morto: "Bendito é você, Rav Yosi, que as palavras e as lágrimas da criança se elevaram ao trono do Rei Santo. Vinte e dois anos foram acrescentados a sua vida, para que você tenha tempo de educar seu filho, o perfeito e amado, perante o Sagrado, bendito seja Ele."
A coluna de fogo desapareceu, e Rav Yosi abriu seus olhos.
Ele viu seu filho, cujos lábios continuavam grudados aos seus, e ouviu Rav Elazar anunciar: “Abençoada é nossa porção, porque nós testemunhamos a ressurreição dos mortos."
 
É o tabu final.
O impensável e inegável.
O solvente universal.
A morte.
 
A cabala vem a nós de um mundo vindouro, nos convidando a ter uma nova coragem: não a coragem de morrer, a medida tradicional de bravura, mas ao contrário, a coragem de não morrer.
A coragem de enfrentar a imortalidade física.
 
Baseado em que podemos desafiar a verdade indisputável de que nascemos para morrer?
"Ele engolirá a morte para sempre e Deus enxugará as lágrimas de todos os rostos", diz a Bíblia.
Não é possível ler esta afirmação e continuar calmo.
A Bíblia promete a morte da morte
Quando Enoch faleceu, diz a Bíblia, ele não morreu.
Na verdade, Enoch "não estava mais ali porque Deus o levou", o que para a Cabala significa que ele deixou a terra com seu corpo físico, que não morreu.
A Bíblia diz também que Elias não morreu, mas foi elevado aos mundos superiores com seu corpo, subindo ao céu numa carruagem de fogo.
 
Desafiamos a hegemonia da morte baseados nessas afirmações da Bíblia e em verdades reveladas no Zohar.
O Zohar nos conta que existem dois polos: Luz e Escuridão
A Luz é Deus, a vida eterna e a plenitude total.
A Escuridão é o ego, ou o desejo de receber somente para si mesmo e é a força da morte.
Quando escolhemos nos conectar com a escuridão nos aproximamos da morte
Quando escolhemos nos conectar com a luz, por outro lado, atraímos mais força vital.
Nossa tarefa é viajar para a Luz e quando a alcançarmos por completo, quando nos tornarmos como Deus, a morte deixará de ter domínio.
 
Este é o fim da morte, não com base na crença ou na fé religiosa, ou depois de um apocalipse.
Nós mesmos precisamos fazer com que isso aconteça.
A sabedoria do Zohar está aqui não para fortalecer um determinado sistema de crença, mas para nos inspirar a nos aventurarmos além da crença, para o plano da ação, onde as mais profundas esperanças humanas saem do plano do mito e entram no plano da vida diária.
A imortalidade física é possível por que nós temos o poder de criá-la.
E, sabendo disso, temos uma obrigação de fazer acontecer.
 
O Zohar conta que um dia Rav Yitzchak se aproximou de seu amigo, Rav Yehuda, com um pedido: que depois que ele, Rav Yitzchak, tivesse ido para o túmulo, seu bom amigo deveria rezar por ele todos os sete dias de luto.
Espantado, Rav Yehuda perguntou por que o mestre supunha que iria morrer, ao que Rav Yitzchak deu dois motivos.
Primeiro, quando sua alma o deixava durante o sono ela já não o iluminava mais com sonhos.
Segundo, ele não via mais sua sombra.
"Quando a sombra de um homem não é mais vista", ele recordou seu amigo, "ele deixa este mundo."
Rav Yehuda respondeu: "Eu realizarei seus pedidos, mas também peço que você reserve um lugar para mim do seu lado no outro mundo, assim como estive ao seu lado neste mundo."
Perturbados pelo prospecto de sua separação iminente, os dois amigos foram ver seu mestre, um dos maiores cabalistas da história e o autor do Zohar, Rav Shimon bar Yochai.
Rav Shimon estava num tal nível em sua própria jornada para se tornar como Deus que simplesmente levantou seus olhos e pôde ver o anjo da morte dançando na frente de Rav Yitzchak.
Ele convidou seus dois alunos a sua casa, mas recusou entrada ao anjo da morte. "Quem for um visitante habitual na minha casa pode entrar", ele disse, "e quem não for está barrado."
Uma vez dentro de casa, Rav Shimon levantou-se e disse: "Mestre do universo, temos um certo Rav Yitzchak conosco. Veja, estou com ele. Dê-o para mim!"
Uma voz ressonante respondeu: "Muito bem, Rav Yitzchak é seu."
Rav Yitzchak caiu no sono e em seu sono viu seu pai, que proclamou: "Filho, feliz é sua porção neste mundo e no mundo vindouro, porque você senta entre as folhas da árvore da vida no Jardim do Éden."
Um som ecoou por todos os mundos: Amigos que se encontram aqui, enfeitem-se para Rav Shimon que fez um pedido ao Sagrado que Rav Yitzchak não morresse e foi atendido."
Rav Yitzchak acordou e sorriu.
Seu rosto brilhava.
Se o cabalista Rav Shimon bar Yochai tinha o poder de afastar o anjo da morte com um simples ato de vontade, por que nós convidamos a morte para nosso quarto de dormir com tanta facilidade?
Por que a inevitabilidade da morte não está na pauta e está marcada como “não se discute”?
Simplesmente porque sempre foi assim?
Somente porque estamos pilotando pela história com nossos olhos no espelho retrovisor em vez de olhar para a estrada a nossa frente?
A vida deveria vir com o mesmo aviso legal que as propagandas financeiras:
Performance passada não é garantia de resultados futuros.
 
Os pontos de virada na história, nada mais são do que o registro de suposições derrubadas: um diário de impossibilidades e daqueles que conseguiram realiza-las.
Houve tempo em que um terço da humanidade morria de vírus e bactérias.
Hoje, peste bubônica é apenas o nome de um grupo de rock.
Quando ainda havia lampiões a óleo, peritos declararam que tudo o que havia para ser inventado já tinha sido inventado.
Hoje, tiramos e enviamos fotografias digitais com nossos telefones celulares.
 
A história não é gentil com a impossibilidade.
Por mais impossível que a imortalidade física possa parecer, a evolução abolirá esse ditame.
A imortalidade não acontecerá simplesmente por termos construído uma máquina do tempo, desenvolvido antibióticos mais fortes ou baixado nosso DNA para discos rígidos. A imortalidade acontecerá por causa do nosso trabalho para nos tornarmos como Deus, e porque já somos imortais.
Em nossas almas, nós já somos como Deus, mas, por estarmos separados da natureza de compartilhar divina, sofremos e morremos.
Quando nos tornamos como Deus, apagamos nossas próprias doenças, transformamos as amolações cotidianas em oportunidades de nos tornarmos livres, descartamos com um aceno os pensamentos que causam depressão, vivemos com um objetivo mais grandioso do que sobreviver mais um dia na prisão, e nos tornamos a causa de todas as nossas experiências.
Como Rav Shimon Bar Yochai nós até colocaremos um sinal de entrada proibida para o anjo da morte, de forma que, de agora até a eternidade, a morte não terá domínio.
 
Por: Michael Berg

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